Esta semana as aulas para as minhas turmas foram sobre a
Revolução do Haiti e o Haitianismo (especialmente no Brasil). Comecei perguntando
aos alunos o que passava na cabeça deles quando eles ouviam a palavra “Haiti”.
Esperava que eles falassem sobre fome, miséria, doenças, terremoto, etc. Estes
temas estiveram presentes, mas só uma palavra apareceu em todas as turmas:
Ebola.
Para mim, alguns alunos considerarem que o Haiti fica na África é um sintoma de
quão pouco trabalhamos em sala de aula sobre o continente americano,
principalmente levando em consideração as suas demandas, conflitos e questões
internas. Deixar de apresentar a história da América como um desdobramento
automático e periférico da história da Europa é uma batalha que está longe de
ser vencida.
Além disso, muitas vezes (como neste caso) a África é vista como uma coisa só,
uniforme, estanque. Como se fosse uma pequena vila isolada, sem diferenças
entre passado, presente e futuro. Uma vila sem história. Só isto justificaria a
associação duplamente errada: “Haiti faz parte da África, logo está cheio de
gente contaminada pelo vírus ebola.” Este é um sintoma de quão pouco trabalhamos
sobre o continente africano, suas dinâmicas internas, suas relações econômicas,
políticas, culturais entre si e com o resto do mundo. Este sintoma torna-se
ainda mais grave quando sabemos o quanto conhecer o continente africano é
importante para conhecermos o Brasil.
Sem dúvida, quando observamos alguma coisa um pouco mais atentamente conseguimos
ver os detalhes, as nuances, deixamos de considerá-la uma massa igual,
padronizada, simples e sem contradição. Isto vale para desfiles de escolas de
samba, vale para grupos de japoneses, vale para a África.
A partir destes dois sintomas, posso diagnosticar com
convicção: o currículo de História está doente. E mais, nós somos parte da
doença (mas não toda a doença como afirmam os “especialistas” globais e
governamentais). E mais, não há um remédio que cure de imediato e nem há bula
que apresente a posologia, modo de usar, efeitos colaterais. E principalmente: mesmo
em um espaço escolar feito para moer gente, mesmo caminhando no erro,
tropeçando aqui e ali, mesmo sem ter resposta às perguntas necessárias, cabe a
nós, professores, enfrentar esta questão.
Obs: faltaram neste Mapa do Ebola os países Mali, EUA e Espanha.