terça-feira, 25 de março de 2008

"Mengão arrasador"

É impressionante. Eu, como todos que moram no Rio, tenho vários amigos e conhecidos flamenguistas. Muitos são tranqüilos, simpáticos e dispostos a conversar sobre qualquer tema. Ou quase. Quando o tema é futebol, surge do nada uma arrogância e uma sensação de onipotência que deixa o flamenguista irreconhecível, ou melhor, reconhecível apenas como flamenguista.
Um exemplo: estava lendo um jornal de esportes que estabeleceu uma "seleção da Taça guanabara". Nada menos do que 8 jogadores do flamengo tinham sido escolhidos. Um flamenguista do meu lado reclamou: "só?". Outro flamenguista, professor, que sempre defendeu a ampliação do diálogo nas escolas, elogiou o rubro-negro Toró por ter dado um violento empurrão em um gandula de 13 anos! "Ele estava fazendo cera!" - disse o sujeito.
Para homenagear todos os flamenguistas e demonstrar que eu não guardo mágoas deste tipo de atitude, vou propor uma votação: já que o Mengão é tão bom, vamos escolher o craque do time. Aquele que garante a vitória e leva o time aos títulos. Os candidatos são estes:
Juiz: jogador surpresa, sempre surge nos momentos decisivos para decidir as partidas mais importantes. Polivalente, joga tanto no ataque (garantindo os gols) quando na defesa (impedindo gols e reclamações dos adversários). Independente do esquema tático, é o rei das duas grandes áreas.
Imprensa: joga no ataque o tempo todo, principalmente quando o time não está jogando. Além de ser um jogador que atrai a atração dos adversários, dribla as críticas com competência. Quando aparecem suspeitas sobre as vitórias do flamengo, ataca com a velha resposta: "a torcida levou o time à vitória". Aliás, a torcida ganhou o prêmio "faz a diferença" de O Globo...
FERJ: outra jogadora que surpreende os adversários mais ingênuos. Atua no meio-campo, e aparece como suposta adversária do Fla. Mas, na hora H, está ali para decidir, colocando na geladeira os juízes que supostamente erraram contra este time. E a recíproca (juízes que erram pró-flamengo serem punidos) não acontece. Senão, não teríamos mais juízes no Rio de Janeiro...
STJD: grande astro da defesa rubro-negra. Quando ninguém mais espera, ele garante a manutenção do escrete rubro-negro em campo. Os parceiros da equipe o adoram: nunca os deixa na mão. Jogador completo, ainda anula os adversários. Veja o caso do Romário: foi considerado culpado de doping enquanto estava no Vasco. Foi só sair deste time e surgir um boato de que ele iria para o flamengo, o STJD o absolveu (!). Mudou de opinião de repente, marcando mais um golaço para o mengo.
Vote agora! Os candidatos estão ansiosos. Outros votos serão aceitos, principalmente para evidenciar a arrogância rubro-negra.
Saudações vascaínas.

Jornal Escolar

Para quem não sabe, estou fazendo parte de um projeto educacional de construção de um jornal escolar no CEROM, colégio no qual eu leciono em Teresópolis. Dentro das escolas, a questão "Mídia" parece estar ganhando um espaço cada vez maior. Em pouco tempo, já fiquei sabendo de vários projetos neste sentido. A primeira reunião foi ontem (segunda-feira) e já tivemos que lidar com um obstáculo inesperado: a chuva, que parece ter inibido a presença de vários estudantes.

O projeto tem como objetivo geral estimular e desenvolver a capacidade dos estudantes como leitores e produtores de conhecimento, além de permitir uma reflexão sobre o papel da mídia e o papel desta mídia específica (o jornal) para a comunidade escolar.

Quem quiser o projeto completo, é só me pedir por e-mail. Quem se sentir inibido de colocar seu e-mail nos comentários, mande o recado para pedrofreitashistoria@yahoo.com.br.

De antemão eu já sei que o projeto não vai seguir seu curso conforme foi planejado. É sempre assim no mundo real. Mas já estou expondo-o pra vocês, até para garantir que eu depois tenha que "prestar contas" sobre o que está sendo feito...

terça-feira, 11 de março de 2008

Fazer a minha parte?

"Houve um incêndio na floresta e enquanto todos os bichos corriam apavorados, um pequeno beija-flor ia do rio para o incêndio levando gotículas de água em seu bico. O leão, vendo aquilo, perguntou para o beija-flor: 'Ô beija-flor, você acha que vai conseguir apagar o incêndio sozinho?' E o beija-flor respondeu: 'Eu não sei se vou conseguir, mas estou fazendo a minha parte'."

Muita gente conhece a fábula acima. Eu a ouvi pela primeira vez quando era estudante do ensino fundamental, e em um debate, concluímos que o beija-flor estava certíssimo, pela sua persistência e esperança. Temos que fazer a nossa parte para mudar tudo que está errado no mundo. Que bonito! Parabéns ao beija-flor!

Mas... Voltando ao mundo real: qual o resultado prático desta ação? O beija-flor, após despejar diversas gotas na floresta, morreu incendiado. Os outros animais conseguiram fugir. No entanto, sem habitat adequado, acabaram morrendo de fome, ou caçados pelo bicho homem. Ou seja: a admirável atitude do beija flor acabou em... nada. "Fez a sua parte". Que parte? Parte do quê?

Desculpem-me os professores românticos. Não é assim que se transforma efetivamente a realidade. Muitos professores aceitam esta saída como a única alternativa possível, e fazem o que consideram a "sua parte": preparam boas(?) aulas, dão conselhos para os alunos transviados(?), talvez até doem umas cestas básicas para as famílias pobres. Ganham uma consciência tranquila(?) e uma realidade caótica: os alunos continuam chegando semi-analfabetos ao sexto ano; os livros continuam sendo artigo raro nas casas; os estudantes vão se sentindo a cada dia mais sufocados na escola; esta por sua vez vai, cada vez mais, perdendo sentido e utilidade.

Uma atitude individualista, mesmo que altruísta, não tem resultados práticos. Percebendo isto muitos professores desistem de qualquer ação transformadora. Tratam de cuidar das suas vidas. Um dia, um professor me falou: "eu já me preocupei com isso aí (educação). Hoje, é cada um por si". Infelizmente, o número de mortos-vivos na educação não pára de crescer. Não é saída: é fuga.

Não adianta fugir: a única saída é a organização. É óbvio que é fundamental pensar e repensar as aulas. Mas não somente: temos que discutir com nossos colegas o projeto político pedagógico da escola e organizar projetos coletivos para atingir objetivos coletivos. Mas não somente: temos que refletir sobre a educação e trocar experiências com colegas, alunos, funcionários, pais, das nossas e de outras escolas. Mas não somente: temos que nos organizar e lutar para que os nossos projetos e valores educacionais virem realidade.

É difícil? Muito. Começar a debater estas coisas pode ser chato pra caramba. Começar, inclusive, é mais chato que continuar. Mas, repito, não vejo outra saída. Ou tomamos partido ou continuaremos assistindo a falência da educação. Outra saída é esperar um herói: esperar um presidente/governador/prefeito bonzinho, que vai apostar na educação e vai pensar pela gente o que é "educação de qualidade".

Quem espera sempre cansa. Mas pelo menos um destes chefões, em um gesto de bondade, pode emprestar um laptop para o professor jogar paciência enquanto a casa cai...

Entrando vaiado em campo

O ótimo e divertido Blog de Marcos Alvito (meu ex-professor) sobre o futebol na inglaterra - http://arainhadechuteiras.blogspot.com/ - sempre me faz refletir. Outro dia, ao ler a crônica "Malandros Otários", me deparei com a seguinte questão: por que, no Brasil, os árbitros de futebol já entram em campo vaiados pela torcida? Alvito conclui que um dos fatores seria a construção do Estado Brasileiro: "A tradição de um Estado autoritário e centralizador, desvinculado da sociedade, torna qualquer autoridade suspeita: 'todo político é corrupto, todo policial é bandido e todo o juiz de futebol é ladrão'." (tá la no Blog dele).
Na hora me bateu o estalo: caramba! Isto também acontece conosco, professores! Em uma sociedade que tenta excluir cada vez mais a população pobre dos processos decisórios, nada mais natural que o povão desconfie de quem venha lhe impor uma "ordem", lhe dar uma "lição". E, ai de nós professores, já entramos em campo vaiados. Muitos de nós tentam distribuir cartões vermelhos a torto e a direito para os alunos, com o intuito de "impor respeito": "sai de sala", "cala a boca", entre outros brados menos votados já foram utilizados por todos os professores. Comigo, nunca deram certo. Só me deixaram mais mal-humorado e com vontade de me vaiar também.
Como diria qualquer um destes ex-árbitros comentaristas: "perdeu o controle da partida". Mesmo me colocando no papel de Juiz, já fui muitas vezes goleado pelos alunos.
Tem saída? Quem sabe chamar os alunos para "apitar" o jogo com a gente?
- Como?
- E eu sei lá?

Bem vindo à minha cabeça...

Quero desejar as boas vindas a todos que, por não ter nada o que fazer, decidirem visitar este Blog. Pretendo escrever aqui toda reflexão que vier à minha cabeça e que me dê vontade de compartilhar. Portanto, pode vir de tudo, mas o mais provável é que venha: futebol, educação, vida.
Um grande abraço a todos