quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Haiti, África e Ebola




Esta semana as aulas para as minhas turmas foram sobre a Revolução do Haiti e o Haitianismo (especialmente no Brasil). Comecei perguntando aos alunos o que passava na cabeça deles quando eles ouviam a palavra “Haiti”. Esperava que eles falassem sobre fome, miséria, doenças, terremoto, etc. Estes temas estiveram presentes, mas só uma palavra apareceu em todas as turmas: Ebola.

Para mim, alguns alunos considerarem que o Haiti fica na África é um sintoma de quão pouco trabalhamos em sala de aula sobre o continente americano, principalmente levando em consideração as suas demandas, conflitos e questões internas. Deixar de apresentar a história da América como um desdobramento automático e periférico da história da Europa é uma batalha que está longe de ser vencida.

Além disso, muitas vezes (como neste caso) a África é vista como uma coisa só, uniforme, estanque. Como se fosse uma pequena vila isolada, sem diferenças entre passado, presente e futuro. Uma vila sem história. Só isto justificaria a associação duplamente errada: “Haiti faz parte da África, logo está cheio de gente contaminada pelo vírus ebola.” Este é um sintoma de quão pouco trabalhamos sobre o continente africano, suas dinâmicas internas, suas relações econômicas, políticas, culturais entre si e com o resto do mundo. Este sintoma torna-se ainda mais grave quando sabemos o quanto conhecer o continente africano é importante para conhecermos o Brasil. 

Sem dúvida, quando observamos alguma coisa um pouco mais atentamente conseguimos ver os detalhes, as nuances, deixamos de considerá-la uma massa igual, padronizada, simples e sem contradição. Isto vale para desfiles de escolas de samba, vale para grupos de japoneses, vale para a África.

A partir destes dois sintomas, posso diagnosticar com convicção: o currículo de História está doente. E mais, nós somos parte da doença (mas não toda a doença como afirmam os “especialistas” globais e governamentais). E mais, não há um remédio que cure de imediato e nem há bula que apresente a posologia, modo de usar, efeitos colaterais. E principalmente: mesmo em um espaço escolar feito para moer gente, mesmo caminhando no erro, tropeçando aqui e ali, mesmo sem ter resposta às perguntas necessárias, cabe a nós, professores, enfrentar esta questão. 

Obs: faltaram neste Mapa do Ebola os países Mali, EUA e Espanha.

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