terça-feira, 31 de março de 2009

Poema reflexão

Há um tempo atrás um amigo meu, Rafael, postou um comentário neste blog em forma de poema. Eu, relendo o meu blog, revi e refleti muito a partir dele. Espero que mais pessoas reflitam também:

Escolarizando
conforme forma mente
conforma gente

educando conforme
a formação que forma
a mente desforme
deformando a forma
que educadamente
mente e conforma

carretel de lata velha
de pipa solta
de rabiola farpada

"que eu me organizando
posso desorganizar
que eu desorganizando
posso me organizar"

desorganizadamente
menteorganizar
organizadamente
mentedesorganizar
sem o verbo que mente
desescolar
as amarradasmentes
para no mundo escolar colar
urgentemente
insurgentesmentes
desconformar

terça-feira, 24 de março de 2009

Choque de ordem

O "choque de ordem", proclamado pelo prefeito Eduardo Paes, não é nenhuma novidade. Projetos que tentam implementar esta "ordem" já foram feitos muitas vezes ao longo da nossa história. Nos últimos anos, a cidade do Rio sofreu operações como a Ipabacana e outras que buscavam retirar os mendigos dos bairros nobres da cidade. Depois, Gabeira apareceu como candidato da Zona Sul ao propor um "choque de ordem e de capitalismo" no Rio. Paes, desesperado por ter perdido os votos neo-udenistas da zona sul carioca, buscou no marketing a saída para recuperar o prestígio neste meio.

Iniciou o seu governo com uma marca: o choque de ordem. Não seria tolerada nenhuma irregularidade na cidade. A lei seria cumprida, etc. etc. Para marcar estes "novos tempos" retirou mendigos da zona sul, derrubou construções irregulares, proibiu venda de bebidas nos arredores do maracanã em dias de jogos, reprimiu camelôs, além de outras ações impactantes.

Bicicletas apreendidas e mães proibidas de colocar um pano para proteger os seus bebês no chão de um parque, fizeram muitos questionarem a tal da ordem pública.

Mas o fato é que não existe uma "ordem" universal, que atenda a todos os interesses. Que ordem é esta? Garante os "direitos" de quem, cara pálida? Os mesmos de sempre: os brancos, endinheirados e amedrontados. Aqueles que percebem a violência quando a bala fura a sua janela. Aquele que sai no jornal quando uma munição perfura o seu telhado.

Para explicar este choque de ordem basta lembrar do último dia de chuva: as ruas continuaram enchendo e os bueiros entupindo, mas o trabalhador que tentasse vender guardas-chuva eram reprimidos; as marquises podres e ameaçando cair continuavam lá, mas se um mendigo fosse se proteger da chuva, era retirado daquele espaço. O desemprego e miséria são elementos perfeitamente adequados à ordem de Eduardo Paes.

terça-feira, 10 de março de 2009

Perguntas para a Igreja Católica

1 - Todas as mulheres que fazem aborto são excomungadas? Se não, por que?

2 - Quem são as pessoas envolvidas no aborto que serão excomungadas? Faxineiros, motoristas de ambulância, diretor do hospital, etc entram nesta lista?

3 - Congressistas que votam a favor de leis que permitem o aborto em determinados casos são excomungados? E juízes que fazem valer a lei?

4 - Para a Igreja, o aborto se equipara a um assassinato. Portanto, todos os condenados por assassinatos são excomungados?

5 - Chefes de Estado que permitem a pena de morte são excomungados? E os policiais que a executam? E juízes que apresentam este veredicto?

6 - Os papas da época da inquisição, em que a igreja foi responsável pelo assassinatos de "hereges" serão excomungados? E o papa de uma igreja católica que tenta obstacular o acesso de pobres a camisinha, possibilitando a multiplicação dos casos de AIDS, aumentando o índice de mortalidade?

7 - A igreja católica estimula a morte de milhares de mulheres, forçando-as a ter filhos em situação de risco ou abortar em clínicas clandestinas. A igreja católica excomungará a Igreja católica?

Não aos microfones no estado!

A escola em que eu leciono no Estado acabou de receber os primeiros microfones. Assim como o Laptop e a promessa de Ar-condicionado, esta é mais uma curiosa medida do governo do Estado para a educação. Antes de mais nada, vale lembrar que os professores não foram consultados sobre a melhor forma de utilizar estas verbas, mas o governador já decidiu o que é melhor para a gente e parece que ele adora uma licitação...

As críticas que foram feitas sobre a entrega dos laptops aos professores pode ser resumida pela palavra "prioridade". Diante dos salários baixíssimos, da precária estrutura das escolas (falta pilot para quadro branco, fotocópias, ventiladores, dvds, salas de informática equipadas, etc) o "presente" para os professores não parecia fazer sentido.

Já a crítica aos microfones vai em outro sentido. Eu sou contra este recurso didático como política de governo em qualquer realidade. Por três motivos, principalmente:

Primeiro: o nosso contato com os alunos é, realmente, difícil. As chamadas "conversas paralelas" atrapalham muitas vezes o bom andamento da aula. Só que colocar um microfone no professor para "abafar" estas conversas serve apenas para fugir e ignorar o problema. A aula, desinteressante e cansativa continuará assim. É como acabar com uma febre sem investigar o seu motivo. Os professores estamos com problemas na voz porque falamos e gritamos muito. Gritar mais alto é a saída? E se um professor decidir colocar o microfone no volume máximo para "punir" os alunos insubordinados? Teremos todos que aturar o uso desta arma?

Segundo: como todos sabemos, a aula não pode se resumir ao professor falar e ao aluno ouvir. Seria possível promover um debate microfonado? A voz do professor, com microfone, permite uma abertura para o estudante se manifestar em uma aula? Creio que este instrumento ajuda a ampliar a distância e a hierarquia entre professor e aluno. Se este é o objetivo do governo do Estado, que tal resgatar o pedestal para o professor, obrigar os alunos a se levantar à entrada do Ser Iluminado e, se for preciso, palmatória? Eu acredito que a verdadeira educação deve buscar ser emancipatória, e não castradora.

Terceiro: está será uma excelente desculpa para o governo entupir as turmas com 60, 70 alunos. As salas, lotadas e quentes, aumentarão a "produtividade" da política de Cabral: mais gente formada por menos custos (leia-se: menos professores e menos escolas). Vai no mesmo sentido das pressões das coordenações para que aprovemos os alunos no 4º bimestre. Aprovação é produtividade, independente do motivo desta aprovação.

Já sei! Tive uma outra idéia para diminuir o barulho das aulas! Que tal turmas de no máximo 25 alunos? Escolas equipadas e com uma vasta diversidade de cursos extras para os alunos (cinema, teatro, música, etc)? Professores recebendo bem sem acréscimo de carga horária, tendo tempo para participar de cursos, trocar experiências, refletir e preparar suas aulas?