terça-feira, 10 de março de 2009

Não aos microfones no estado!

A escola em que eu leciono no Estado acabou de receber os primeiros microfones. Assim como o Laptop e a promessa de Ar-condicionado, esta é mais uma curiosa medida do governo do Estado para a educação. Antes de mais nada, vale lembrar que os professores não foram consultados sobre a melhor forma de utilizar estas verbas, mas o governador já decidiu o que é melhor para a gente e parece que ele adora uma licitação...

As críticas que foram feitas sobre a entrega dos laptops aos professores pode ser resumida pela palavra "prioridade". Diante dos salários baixíssimos, da precária estrutura das escolas (falta pilot para quadro branco, fotocópias, ventiladores, dvds, salas de informática equipadas, etc) o "presente" para os professores não parecia fazer sentido.

Já a crítica aos microfones vai em outro sentido. Eu sou contra este recurso didático como política de governo em qualquer realidade. Por três motivos, principalmente:

Primeiro: o nosso contato com os alunos é, realmente, difícil. As chamadas "conversas paralelas" atrapalham muitas vezes o bom andamento da aula. Só que colocar um microfone no professor para "abafar" estas conversas serve apenas para fugir e ignorar o problema. A aula, desinteressante e cansativa continuará assim. É como acabar com uma febre sem investigar o seu motivo. Os professores estamos com problemas na voz porque falamos e gritamos muito. Gritar mais alto é a saída? E se um professor decidir colocar o microfone no volume máximo para "punir" os alunos insubordinados? Teremos todos que aturar o uso desta arma?

Segundo: como todos sabemos, a aula não pode se resumir ao professor falar e ao aluno ouvir. Seria possível promover um debate microfonado? A voz do professor, com microfone, permite uma abertura para o estudante se manifestar em uma aula? Creio que este instrumento ajuda a ampliar a distância e a hierarquia entre professor e aluno. Se este é o objetivo do governo do Estado, que tal resgatar o pedestal para o professor, obrigar os alunos a se levantar à entrada do Ser Iluminado e, se for preciso, palmatória? Eu acredito que a verdadeira educação deve buscar ser emancipatória, e não castradora.

Terceiro: está será uma excelente desculpa para o governo entupir as turmas com 60, 70 alunos. As salas, lotadas e quentes, aumentarão a "produtividade" da política de Cabral: mais gente formada por menos custos (leia-se: menos professores e menos escolas). Vai no mesmo sentido das pressões das coordenações para que aprovemos os alunos no 4º bimestre. Aprovação é produtividade, independente do motivo desta aprovação.

Já sei! Tive uma outra idéia para diminuir o barulho das aulas! Que tal turmas de no máximo 25 alunos? Escolas equipadas e com uma vasta diversidade de cursos extras para os alunos (cinema, teatro, música, etc)? Professores recebendo bem sem acréscimo de carga horária, tendo tempo para participar de cursos, trocar experiências, refletir e preparar suas aulas?

2 comentários:

Sonia disse...

Gostei de suas reflexões.
Não moro em seu Estado, mas é uma realidade nacional os organismos (inclusive associações de docentes) não focarem o objetivo principal da escola e trilharem caminhos distintos (por diversos fatores).
Gostei.

jana disse...

Até que enfim uma reflexão crítica e consciente sobre o tema. Só tenho visto aplausos calorosos e confusos. Beijos