terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Bem acompanhado

Sou um privilegiado. Estou cercado por pessoas que pensam e refletem sobre o mundo a sua volta. Aqui vai um texto da minha mãe, professora, sobre o seu trabalho:


Reflexões de uma professora da Rede Pública de Ensino
Por: Jana Eiras Castanheira

De tempos em tempos podemos verificar a ocorrência de algumas tentativas contundentes de desqualificar o professor, seja por parte de alguns setores da mídia, seja por parte de nossas “autoridades”.
Ultimamente, temos observado algumas conversas com o intuito de se mexer em uma conquista histórica da categoria, que é a aposentadoria aos 25 anos para as professoras e aos 30 para os professores. Vale lembrar que esse direito adquirido não é nenhuma “generosidade”. Trata-se, na verdade, de uma maneira de se pagar aos professores vários adicionais a que teríamos direito.
Vejamos: adicional de insalubridade – que vai do piolho às doenças infecto-contagiosas; adicional de periculosidade – basta abrirmos os jornais pra vermos, volta e meia, algum colega agredido e/ou ameaçado por um aluno e, finalmente, adicional de penosidade. Existe!!! E quem recebe são aqueles profissionais cujas funções são penosas, como, por exemplo, o ascensorista, que passa o dia inteiro dentro de um elevador, subindo e descendo, subindo e descendo... sem chegar a lugar nenhum. (Qualquer semelhança com professores atendendo a alunos completamente incapazes de acompanhar o programa graças a anos e anos de políticas públicas equivocadas não é mera coincidência).
Enfim, como não se queria pagar esses adicionais todos de uma forma direta, foram feitas contas e, matematicamente (como gostam de falar os locutores esportivos), diminuiu-se cinco anos da data de aposentadoria da categoria. Portanto, não é nenhum privilégio.
Estou recordando essa história porque ouvi hoje, numa reunião na escola estadual, que o professor que trabalha no horário noturno tem uma hora aula de 40 minutos enquanto nos turnos da manhã e tarde a hora aula é de 50 minutos. Portanto, estaríamos ganhando a mesma coisa que nossos colegas que trabalham de dia com uma carga horária menor.
Ora! Todo profissional que trabalha no turno da noite tem, por lei, um adicional noturno. (O do porteiro do meu prédio, por exemplo, é de 40% a hora. É acordo sindical. Paga-se e pronto. Doa a quem doer!).
Estou cansada de ver o professor tratado como um monstro intransigente que não dá sua cota de sacrifício (mais???) para o bem da educação. Estou desconfiada que isso vem desde a forma de tratar as professoras das séries iniciais de “tias”. Pronto! Virou parente! (Eu, particularmente, conheço poucas relações tão desrespeitosas quanto as relações familiares. No calor da discussão, diz-se a um ente querido coisas que não diríamos ao nosso pior inimigo - quanto menor a intimidade, maior a cerimônia)
Logo, queridos, vamos parar com isso! Fazemos nosso trabalho direito. Com amor, com tesão. Muitas vezes em escolas onde falta tudo, da água ao material didático. Trabalhamos debaixo de um calor infernal, trabalhamos quando falta luz, improvisamos salas de aula ao ar livre, ensinamos regras básicas de educação, de higiene e de convívio social. Assumimos, cada vez mais, papéis que antes eram desempenhados pela família.
Mas, acima de tudo, somos profissionais, queremos ser respeitados e, de preferência, bem remunerados.

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Pedro, hoje passando por aqui resolvi ler o artigo da sua mãe.
Deixo meus aplausos.