sexta-feira, 4 de abril de 2008

Preconceito no futebol e na escola: "velhos malditos!"

Este é um texto sobre futebol e também sobre educação. Primeiro é preciso dizer o óbvio: o preconceito está presente em toda a sociedade, e como o futebol faz parte dela, também é preconceituoso. O futebol, no entanto, tem características particulares, portanto, os preconceitos aparecem neste esporte também de uma maneira singular.
Não sou um especialista no assunto (não mais do que muitos brasileiros). Mas não posso deixar de perceber e de me indignar com os preconceitos que presencio freqüentemente, por parte dos jogadores, imprensa, público, etc. Acredito que, no futebol, os dois preconceitos mais evidentes são os preconceitos de gênero e de classe, que comentarei posteriormente.
Não são os únicos.
Ultimamente, o preconceito contra os idosos tem aparecido com freqüência na imprensa futebolística. A Fifa proibiu a utilização de determinadas tecnologias que auxiliariam a arbitragem (bolas com chips para identificar se ela entrou no gol, o acesso a imagens da tv para dirimir as dúvidas, entre outras). A imprensa caiu de pau: os "velhinhos caquéticos" da Fifa estariam completamente desconectados com o mundo moderno. Um repórter do jornal Lance chegou a desejar que estes "velhinhos" sejam substituídos por empresários jovens, modernos e com visão de futuro.
Sem entrar no mérito da questão, o preconceito está em todas estas falas. Para reforçar a idéia de que os membros da Fifa estão ultrapassados, associam esta acusação à sua imagem: são velhos, portanto, já eram. É aquela história: se alguém quiser acusar uma pessoa negra de ser ladrão, utiliza-se o preconceito a favor da acusação: "crioulo safado!"
A crítica aos "velhinhos da Fifa" está relacionada à uma questão maior e mais complexa: a tão sonhada(?) modernização do futebol, que merece a atenção, o debate e a reflexão de todos nós. Um dia, pretendo analisar esta questão mais à fundo.
Na escola também há um forte preconceito contra os "velhos", ou tudo que é "velho" . Eu, como professor de história, sinto isto na pele. 1970, 1930 ou 2000a.c. tem o mesmo significado para muitos alunos: são tempos mortos, ultrapassados. Nós professores, somos desta época velha onde nada funcionava e ninguém conseguia viver bem. Quando mais velho for o professor, maior deve ser esta associação.
Quando eu percebo isto, costumo fazer uma provocação: todos os meus alunos, todos, sem exceção, nasceram no século (milênio!) passado. Nesta lógica, portanto, todos nós somos velhos e ultrapassados. Eu costumo falar com os alunos: "quando os seus filhos e netos souberem a data de nascimento de vocês e perceberem que vocês nasceram em mil novecentos e alguma coisa, vocês serão alvo de chacota! Vocês, os velhos do século passado."
Isto, às vezes, tem algum impacto. Principalmente com as turmas mais novas. Vou continuar fazendo esta brincadeira enquanto posso, pois a partir de 2011, começarei a ter alunos nascidos no século 21, e perderei este argumento. Pelo menos até o ano de 2100...

Um comentário:

tici disse...

A autodenominada grande imprensa é cheia de preconceitos enrustidos. Mas me parece que a futebolística é a mais escrachada nesse sentido...